Fruto das ações da diplomacia federativa, iniciada durante a gestão do chanceler Luiz Felipe Lampreia (Governo FHC) nos anos noventa, o Recife tem se beneficiado de sua localização estratégica e densa (e antiga) rede consular para também ser sede do Escritório do Itamaraty para esta região do Brasil (ERENE - Escritório de Representação no Nordeste), realizando importante interface com os estados e municípios nordestinos e com o empresariado da região e suas federações de indústria. Há, além disso, ampla rede de cônsules honorários e de organismos internacionais na capital pernambucana que consolida, ainda mais, o caráter internacional da cidade maurícia.
Diplomacia é, simultaneamente, arte, técnica e política. Estas três funções são indissociáveis. Como consequência direta, a prática diplomática representa canal de diálogo, de representação e de negociação entre os Estados nacionais. Também tem dimensão informativa para a grande imprensa e também de defesa dos cidadãos estrangeiros – em passagem ou residindo permanentemente – no nosso Estado. Regida pela Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963, a diplomacia consular materializa a prática de cidadania, servindo de contatos e de importantes substratos para formulação de política externa.
O processo de articulação e implantação de um consulado – ponto fulcral da diplomacia consular – envolve negociações bilaterais de alta densidade entre os ministérios das Relações Exteriores e outros atores políticos de relevo. Tal articulação está baseada, antes de tudo, no princípio do consentimento mútuo dos dois países. Assim, Recife tem bastante a oferecer em termos de potenciais de atração de novos consulados, incluindo repartições consulares dos BRI- CS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de outras representações do G-20. Por isso mesmo, deveremos promover empenho cadenciado e esforços concentrados para valorizar esse legado internacional e ampliar, ainda mais, as redes consulares existentes para fins de promoção do desenvolvimento econômico-comercial, da cidadania participativa e da cooperação bilateral entre os povos.
Saibamos, portanto, do imenso valor que reside em Recife ostentar esse título: capital da diplomacia consular do Norte- -Nordeste. Divulguemos esse legado como forma de preservar a força coletiva da agenda internacional do Estado em sintonia com a cidade das pontes como encruzilhada de muitas histórias por onde aqui passaram legados da presença holandesa, judaica, africana e portuguesa. Lembremo-nos sempre do grande pintor modernista pernambucano Cícero Dias quando, de maneira pontual e correta, afirmou através de sua ousada obra: “Eu vi o mundo... ele começava no Recife”. Bravo!
* Doutor em Ciência Política. Coordenador do Curso de Ciência Política da UNICAP. Cônsul de Malta e Presidente da Sociedade Consular de Pernambuco.